Sei que já postei varias vez hoje, mas esse musica merece uma postagem: O Quereres(Caetano Veloso)
Onde queres revólver sou coqueiro, onde queres dinheiro sou paixão Onde queres descanso sou desejo, e onde sou só desejo queres não E onde não queres nada, nada falta, e onde voas bem alta eu sou o chão E onde pisas no chão minha alma salta, e ganha liberdade na amplidão Onde queres família sou maluco, e onde queres romântico, burguês Onde queres Leblon sou Pernambuco, e onde queres eunuco, garanhão E onde queres o sim e o não, talvez, onde vês eu não vislumbro razão Onde queres o lobo eu sou o irmão, e onde queres cowboy eu sou chinês Ah, bruta flor do querer, ah, bruta flor, bruta flor Onde queres o ato eu sou o espírito, e onde queres ternura eu sou tesão Onde queres o livre decassílabo, e onde buscas o anjo eu sou mulher Onde queres prazer sou o que dói, e onde queres tortura, mansidão Onde queres o lar, revolução, e onde queres bandido eu sou o herói Eu queria querer-te e amar o amor, construírmos dulcíssima prisão E encontrar a mais justa adequação, tudo métrica e rima e nunca dor Mas a vida é real e de viés, e vê só que cilada o amor me armou E te quero e não queres como sou, não te quero e não queres como és Onde queres comício, flipper vídeo, e onde queres romance, rock'n roll Onde queres a lua eu sou o sol, onde a pura natura, o inceticídeo E onde queres mistério eu sou a luz, onde queres um canto, o mundo inteiro Onde queres quaresma, fevereiro, e onde queres coqueiro eu sou obus O quereres e o estares sempre a fim do que em mim é de mim tão desigual Faz-me querer-te bem, querer-te mal, bem a ti, mal ao quereres assim Infinitivamente pessoal, e eu querendo querer-te sem ter fim E querendo te aprender o total do querer que há e do que não há em mimquarta-feira, novembro 26, 2008
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1 Comment:
É, Caetano-Gênio. Muito talento.
Muito estudioso de Camões:
"Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer."
...
Se reparar, pode-se passar uma linha vertical dividindo o poema em partes da direita e da esquerda. estas partes se contradizem e se completam [ying-yang nao?], opostas entre si:
"É um não querer / mais que bem querer;
é um andar solitário / entre a gente;
é nunca contentar-se / de contente;
...
Retrata bem as diversas dicotomias de que é formado o amor, por isso é tão difícil defini-lo [que maneira melhor de defini-lo senao por meio de antagonismos e inexplicações?]
Do mesmo modo faz Caetano trazendo os desencontros do Amor [que, na minha opinião acabam sendo um charme]
Em ambos o final arrematador, que deixa de lado as diferenças e louva/pensa o privilégio de ser humano
"Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?"
Gênios
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